Shi Yuqi é um jogador que foge dos padrões chineses
Decisivo, atual número 1 do mundo tem uma trajetória de altos e baixos
Atual número 1 do mundo de simples masculina, Shi Yuqi é o jogador de badminton que melhor representa os benefícios da paciência, um fator importante para a modalidade, mas pouquíssima aderida pela alta cúpula da Associação Chinesa de Badminton (CBA).
Ao contrário de alguns ilustres antecessores ou até mesmo de recentes companheiros de equipe, o atleta de 29 anos é extremamente frágil fisicamente e mais volátil mentalmente, duas condições que fariam o badiste ser carta fora do baralho. Porém, Shi é um exímio estrategista e isso possibilitou que furasse uma bolha dentro do badminton chinês.
Entre 2018 e 2025, anos de suas duas vitórias no All England Open, o jogador mostrou inúmeras vezes as fragilidades humanas, entre elas as várias derrotas em sequência para Viktor Axelsen, recorrentes problemas físicos, quase desmaiar em quadra em virtude de uma febre e colapsos de saúde mental, como o ocorrido depois de uma péssima campanha nos Jogos Olímpicos de Paris, na França, quando precisou ficar um longo período afastado de tudo.
“Na preparação para as Olimpíadas, perdi meu interesse e entusiasmo. Minha recuperação não foi sistemática e não foi ideal. Eu não tinha ideia do que o dia seguinte traria, então cada dia era exaustivo”, disse Shi em uma entrevista ao site da Federação Mundial de Badminton (BWF).
Na Copa Thomas de 2020, em Aarhus, o badiste fez a torcida chinesa quase cair da cadeira ao abandonar a partida contra Kento Momota quando o japonês estava prestes a sacar em 20 a 5, no segundo set do embate. Essa retirada foi considerada bizarra por muitos fãs, mas Shi citou posteriormente lesões e cansaço para ter desistido do confronto. Os internautas não perdoaram o jogador, pois foi alvo de inúmeras críticas.
O habilidoso, clássico e elegante Shi é muito diferente dos consagrados Lin Dan, Chen Jin e Chen Long, três ex-badistes que eram monstros absolutos em questões de fisicalidade ou robustez, quase sempre imparáveis em termos de resistência. Atualmente, o simplista Li Shifeng, por exemplo, vem sendo moldado para seguir os tradicionais moldes do badminton chinês, embora Shi seja muito mais completo e versátil.
Apesar de ter caído em suas costas a pressão de carregar a simples masculina da seleção chinesa no período pós-Lin Dan, a paciência do establishment em relação ao frágil Shi foi de grande importância, pois ele faturou seu bicampeonato no Super 1000 de Birmingham, venceu o Aberto da Malásia e abocanhou cinco títulos importantes na temporada de 2024. Os resultados apagaram a falta de conquistas em 2023 e evidenciaram um atleta muito decisivo, especialmente em grandes torneios.
Em razão de suas limitações físicas, Shi não é um atleta que vai aparecer em qualquer campeonato do circuito mundial, muito pelo contrário. O chinês mostra ter um grande autoconhecimento sobre até onde pode chegar e só embarca em uma jornada depois de uma minuciosa análise, uma estratégia que se mostrou eficaz ao simplista.
Entre altos e baixos, Shi é um dos jogadores mais interessantes de se acompanhar atualmente no circuito mundial, pois seu badminton é extremamente refinado, poderia facilmente até dizer que ele joga de terno. Além disso, o chinês não costuma trair sua verdadeira essência e vai muito na contramão do que prega a cartilha do bom e velho badiste do gigante asiático.
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