É difícil formar atletas mulheres no badminton? Mito ou verdade?
A Peteca ouviu um grupo de treinadores sobre o assunto

Empurrado pelo Dia Internacional da Mulher, celebrado no dia 8, março é tradicionalmente conhecido como o mês das mulheres e, levando isso em consideração, é possível trazer o tema para dentro do universo do badminton e abordar uma questão importante e não muito mencionada no cenário nacional: a dificuldade de formar e encontrar badistes do sexo feminino.
As mulheres são de vital importância para o esporte de raquete mais rápido do mundo, tendo em vista as disciplinas de simples feminina, dupla feminina e dupla mista, categoria predileta do jornalista que vos escreve. Desde que iniciei no badminton, essa dura busca por atletas sempre foi pauta em rodas de conversa, mas costumava acreditar se tratar de uma teoria, contudo, o meu pensamento mudou após algumas consultas.
Conversei com oito treinadores de badminton de diferentes partes do país e todos, embora com alguns diferentes pontos de vista, confirmaram que, de fato, há uma dificuldade de encontrar badistes mulheres, principalmente para performar em alto rendimento na modalidade. No entanto, não é um tema discutido apenas no Brasil, pois a Associação de Badminton da Malásia (BAM) já vem abordando o assunto de forma mais contundente e até severa, como é possível observar nesse comentário de Rexy Mainaky, diretor técnico da seleção.
“Elas reclamam muito e dizem que estão cansadas, mas esperamos que elas percebam que não vão conseguir nada resmungando. É preciso entender por que precisa continuar lutando e como atingir seus objetivos. Em vez disso, o que você faz? Treina um pouco e já reclama de dores e incômodos. Isso não significa que nossas jogadoras de simples femininas não tenham qualidade, é que elas precisam estar dispostas a fazer sacrifícios”, afirmou em uma entrevista a jornalistas na Axiata Arena, em Bukit Jalil.
Em meio ao ruim momento do badminton feminino da Malásia, o dinamarquês Kenneth Jonassen, treinador dos simplistas masculinos da equipe, avaliou que revitalizar o departamento da BAM levará bastante tempo e custará muitos esforços da alta cúpula da entidade máxima da modalidade no país.
Retornando ao cenário brasileiro, os técnicos consultados pelo A Peteca, que decidi não identificá-los no texto, citaram diferentes motivos para que isso seja uma realidade no gigante sul-americano, não só no badminton, mas em praticamente quase todos os esportes. Um deles destacou que a pandemia de Covid-19 e o fato de as mulheres normalmente “não enxergarem um mundo onde elas podem se tornar atletas de rendimento” são algumas barreiras para o surgimento de novas badistes.
A mesma fonte acrescentou que, embora haja muitas atletas habilidosas e recheadas de potencial em território nacional, é muito comum que elas interrompam a trajetória de maneira precoce ou na primeira oportunidade de fazer alguma outra atividade não relacionada ao badminton.
“Como tem muito menos concorrência, aquela que se dedica tem bastante chance de ter boas oportunidades. Tem menos quantidade, mas as mesmas oportunidades que o masculino. Então, facilita o caminho de sucesso”, afirmou o gestor, que ofereceu um contraponto em relação ao tema.
Outro treinador ouvido pelo A Peteca citou que o fácil acesso da nova geração aos mais variados tipos de tecnologias e a mentalidade dos jovens e de familiares são aspectos que “atrapalham o desenvolvimento motor das crianças”. O comandante acrescentou que a dificuldade em formar jogadores não está apenas na categoria feminina.
“Falando do nosso momento atual, eu diria que temos muita dificuldade em formar atletas hoje em dia, seja masculino ou feminino. Hoje, a criança sai da aula do esporte, por exemplo, e já vai para o celular, tablet, Netflix....com isso, perdemos a oportunidade de seguir desenvolvendo o repertório motor. Nossos jovens têm cada vez mais facilidades em tudo, e sabemos que o atleta é aquele que tem capacidade alta de se adaptar e de passar por desafios em todos os sentidos. Com esse caminho facilitado por famílias e tecnologias, estamos criando cada vez mais jovens menos competitivos, o que dificulta na formação de um atleta”, avaliou.
Uma terceira fonte seguiu a mesma linha de raciocínio ao destacar que a dificuldade de formar atletas não é uma exclusividade do badminton, mas alertou que o esporte de raquete mais rápido do mundo é uma das modalidades que mais sofrem com essa lacuna.
“Está bem difícil de encontrar mesmo jogadora feminina. A menina está cada vez se interessando menos pelo esporte, não é uma questão específica do badminton, mas é questão específica do esporte. O esporte feminino como um todo, tirando o voleibol, todo esporte feminino está tendo uma baixa bem grande”, analisou.
Um dos técnicos que participaram da consulta mencionou um fator cultural que está sendo modificado aos poucos na sociedade, mas que ainda persiste e influencia no baixo surgimento de mulheres na modalidade.
“Isso bate majoritariamente em uma questão cultural nossa de que a mulher não tem acesso ao esporte. O menino já nasce e é incentivado a praticar esporte, que é normalmente uma bola de futebol. No geral, o menino é muito mais jogado para o esporte do que a menina, é um negócio que vem mudando nos últimos, mas ainda é uma barreira social muito importante. Então, vejo muito essa barreira cultural de que a mulher é menos incentivada a praticar esporte do que o homem”, comentou, acrescentando que o programa Bolsa Atleta ajudou bastante a prorrogar a carreira esportiva dos jovens.
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