Troquei luvas de goleiro por raquete e peteca - e não me arrependo
As razões dessa transição maluca de esporte que foi significativa para minha vida
“Não é como se as pessoas escolhessem. Não é uma escolha pessoal, o badminton que dá um jeito de agarrar as pessoas.”
“Love All Play”
Desde que me conheço por gente, sempre fui apaixonado por esporte, mas o futebol acabou ganhando maior espaço dentro das minhas preferências. Eu vivia adquirindo revistas sobre o tema, acompanhando jogos e acordando bem cedo para assistir aos programas da ESPN para me informar sobre o que acontecia nos gramados internacionais - olha o nascimento de um então futuro jornalista.
O intenso amor pelo esporte bretão, naturalmente, me fez desejar jogá-lo e não foi difícil, pois quase todo menino nasce com uma bola nos pés, ao menos no Brasil. Eu tinha uma certa habilidade, mas super longe de impressionar alguém ou de cogitar em ter algum futuro. Mesmo tendo conhecimento disso, admito que achava o máximo a ideia de jogar profissionalmente.
A minha falta de qualidade, pouca força no chute e timidez fizeram que meus colegas na escola me colocassem para jogar mais como goleiro, posição que poucos queriam exercer nas aulas de educação física e até mesmo em “peladas” entre amigos na rua. Não fiquei triste, pois de uma forma ou de outra estaria participando da brincadeira.
Apesar da estatura baixa e do corpo franzino, a função caiu como uma luva e, quando me dei conta, já era titular do time do colégio e treinava junto com alunos bem mais velhos, a coisa havia se tornado muito séria. Tudo mudou a partir disso, pois passei a ser visto com outros olhos, já que tinha encontrado algo que eu levava jeito e poderia deixar minha marca.
Aos 13 anos, ingressei em um clube para jogar campeonatos municipais e estaduais de futsal, após ser frustrado pelas portas fechadas no futebol de campo em virtude da minha falta de altura, que jamais compensou as habilidades. Não me abalei, já que o futebol de salão foi minha casa por muito tempo e poderia realizar meu sonho de viver como atleta.
Entre altos e baixos, acredito que mais baixos pelos problemas psicológicos causados em mim, joguei e treinei de forma intensa quase diariamente até os 17 anos, agarrando firmemente a ideia de ser profissional. Desmoronei em lágrimas quando percebi que meu sonho não seria realizado ao fim de meu último campeonato estadual, um dia tão marcante que me lembro como se fosse ontem.
Mesmo pegando pesado nos treinos e tentando mostrar serviço aos técnicos, poucos confiaram no meu taco e passei longos tempos como reserva do meu clube, fator que me fez desenvolver uma competitividade elevada e uma altíssima falta de confiança em mim mesmo. Problemas que até hoje, com 26 anos, trato com minha psicóloga.
Ao ingressar na faculdade, fui barrado pela “panelinha” da equipe de futsal que representava a instituição e optei em apenas seguir jogando em alguns torneios amadores de futebol society em equipes de amigos próximos. Apanhei tanto que já não era a mesma coisa, tanto que parei totalmente de atuar em 2019, pouco antes da pandemia.
A explosão da emergência sanitária impactou bilhões de pessoas ao redor do globo e comigo não foi diferente. Sem praticar nenhum esporte até tudo começar a ser liberado, eu estava varado de vontade para voltar a suar camisa, mas não sendo goleiro, queria algo completamente inusitado para me desafiar e iniciar uma nova era.
Eu já havia ouvido falar de badminton, mas nunca passou pela minha cabeça praticá-lo. No meio de 2022, quando estava indeciso se voltava a fazer natação ou iniciar uma empreitada no vôlei, o esporte de peteca “me agarrou” enquanto assistia ao anime “Love All Play”, onde tive a oportunidade de conhecer melhor a modalidade e achá-la interessante.
Participei da primeira aula sem falar para quase ninguém próximo, pois tudo nasceu de forma espontânea e muito pessoal, ou seja, optei em encarar esse desafio calmamente e sem fazer alarde. Pela primeira vez em vários anos, estava praticando um esporte onde eu não tinha expectativa alguma, tanto que o endurecido Renan até sentiu borboletas no estômago antes de pisar em quadra. Vale destacar que era a minha primeira vez em uma modalidade com raquete.
Não deu outra, pois a raquete e a peteca me conquistaram na prática. Eu me entreguei ao badminton depois de alguns treinos, justamente por ele ter trazido para mim saúde, serenidade, felicidade, risadas, amigos (as) e, principalmente, vida. “Jogar peteca” me tirou do ostracismo e encaro como uma forma de terapia em várias frentes para combater os meus traumas do futebol, desde o de reencontrar a confiança em mim mesmo até o de voltar a ser uma pessoa mais leve.
Como forma de agradecimento ao badminton pelo bem que me traz, eu tento divulgar esse esporte no Brasil através da minha profissão, o jornalismo. Essa espécie de escambo entre nós vem sendo muito interessante, pois aprendo algo novo diariamente, tanto na prática quanto na teoria.
Posso dizer que, em pouco mais de um ano praticando badminton, melhorei mentalmente, mas ainda há um bom percurso para percorrer. Dito tudo isso, só tenho agradecimentos a fazer ao esporte mais maravilhoso, democrático e veloz que já pratiquei.
O badminton é um esporte espetacular e viciante Renan! E mais pessoas deveriam conhecê-lo aqui no Brasil.
Fico feliz que se encontrou neste esporte de raquete mais rapido do mundo.
Bem vindo ao mundo do badminton!
Que história incrível! Parabéns Renan! E obrigada por trazer a sua energia positiva para as quadras <3