Quando o "bad" do badminton fala mais alto
Uma análise sobre os questionáveis jogos mentais dentro da modalidade
Em comparação com outros vários esportes que existem por esse mundão, o badminton é praticamente uma modalidade de damas e cavalheiros que “dançam” elegantemente atrás de uma peteca com raquetes em punho. Não sei você, caro leitor, mas acho gracioso ver um drop shot bem aplicado nas proximidades da rede ou um net game envolvente entre os atletas.
Não podemos esquecer que o moderno jogo do badminton foi desenvolvido no decorrer do século 19 entre os britânicos, mais precisamente na Badminton House, a nada modesta casa de campo do Duque de Beaufort, no condado de Gloucestershire. Apesar da origem nobre, a modalidade sempre terá “bad” em seu nome e alguns praticantes exploram o “lado negro da força” para abalar o mental dos rivais.
Caso você tenha chegado até aqui pensando que usar a parte invertida do badminton é quebrar raquete no chão de raiva, xingar o oponente ou acertar intencionalmente uma petecada na cara de alguém, saiba que está enganado. Essa ferramenta, na realidade, consiste em comemorar os pontos em voz alta, atrasar o jogo para esfriar o ímpeto do adversário - a famigerada catimba -, falar constantemente palavras de incentivo e entre outros, mas sem ultrapassar a linha vermelha. Acredito que essas coisas devem existir desde que o mundo é mundo.
Se ainda estiver “boiando” no assunto do texto, já que nem todos que passam por aqui entendem sobre badminton, todas essas ações servem para fazer um “jogo mental” contra os adversários. Essa energia depositada dentro de quadra pode causar inúmeros efeitos, desde irritar o rival e amedrontá-lo até mesmo incendiá-lo, o que seria o feitiço virando contra o próprio feiticeiro.
Acredito que a espanhola Carolina Marín é um dos melhores exemplos que posso citar. A explosiva campeã olímpica entra toda vez em quadra com a faca nos dentes, tanto que é quase visível uma aura preta muito densa envolvendo seu corpo durante um jogo. Além de seu natural estilo agressivo de combater, a andaluz grita quase em todos os pontos e não costuma levar desaforo para casa, basta ver a troca de faíscas com a indiana P.V. Sindhu e com um membro da comissão técnica de uma atleta chinesa.
Não sei se você acompanha o circuito mundial, mas tenta reparar na forma que Marín é tratada quando joga contra asiáticos e, principalmente, na Ásia. Ao meu ver, é nitidamente que ela é um pouco “persona non grata” entre os atletas naturais da região em virtude de seu jeito nada amistoso.
Esse furdunço ou algazarra, chame como preferir, não é exclusividade dos europeus, pois a dupla indiana - e casal - Sikki e Sumeeth Reddy, curiosamente, venceu um duro confronto contra os norte-americanos Alisson Lee e Presley Smith depois que começou a vibrar em quadra durante as oitavas de final da mistas do Masters de Espanha, em Madri.
“Eles demoram, gritam e impedem você de servir. Definitivamente é um jogo mental, porque você sabe que eles estão tentando quebrar o seu ritmo em quadra. Depende de quão forte você é para ter certeza de não ser afetado por isso, mas no calor do momento, às vezes você é afetado, então quem faz isso ganha uma vantagem. Ser capaz de irritar seu oponente é um talento”, disse a experiente Ashwini Ponnappa em entrevista ao Olympics.com.
Na mesma reportagem especial publicada no portal oficial das Olimpíadas, que explora esse lado “ruim/bad” do badminton, o duplista dinamarquês Christian Faust Kjaer, de apenas 19 anos, seguiu uma linha de raciocínio parecida com a da colega indiana.
“Você perde o foco e às vezes fica com medo de executar jogadas difíceis. Quando alguém está gritando em partida, você pensa: 'Wow, ele é muito maior e mais forte do que eu, sou uma criança muito pequena’”, analisou.
Um fato é que nem todos conseguem ter peito o suficiente para encarnar esse personagem dentro das quadras e se sentir confortável, já que muitos não possuem a personalidade necessária e optam por jogar em silêncio concentrado no que deve ser feito. Naturalmente, esses “bad boys/girls” da modalidade geram controvérsia, pois tem quem admire e quem odeie, mas eles fazem parte do jogo e merecem a devida atenção.
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