O difícil mundo do jornalismo e a importância de um lugar para chamar de seu
As razões da minha entrada no Substack
Ao meu ver, o jornalismo é uma das profissões mais belas existentes, pois o sentimento de escrever livremente sobre um assunto, especialmente se for um que você goste muito, e informar - corretamente - uma, dezenas, centenas ou milhares de pessoas é indescritível. Na prática, o jornalista tem a possibilidade de alcançar ao mesmo tempo diversos pontos do globo com um único texto, acho isso surreal de legal.
Eu sou um minúsculo grão de areia no deserto do mundo do jornalismo, mas o meu profissionalismo, dedicação e amor pelo que faço já me renderam boas lembranças e até fizeram surgir pessoas que se interessaram pelo que redijo ou analiso, especialmente sobre futebol internacional. Creio que uma das grandes satisfações de um profissional é ser visto como uma fonte de inspiração para alguém da futura geração.
Como tudo na vida, o jornalismo também tem seu lado negativo, que vai da perigosa desinformação e do cntrl C + cntrl V até a preguiça de apurar um fato e os problemas de se colocar no mercado. Eu, pelo menos atualmente, trabalho em uma agência internacional de notícias, mas não sei se um dia voltarei a exercer esse ofício de redator em um outro jornal, agência, revista ou tabloide e ser remunerado por ele se por algum motivo eu deixar meu posto.
A essência do jornalismo e até mesmo a razão de muitos desejarem seguir essa profissão é trabalhar como repórter, apresentador, redator ou algo nessa linha, que costumo dizer que é o “jornalismo raiz”, mas a dificuldade de encontrar oportunidades nessas áreas é imensa, pois as redações estão cada vez menores e, muitas vezes, quem consegue uma vaga nas grandes mídias é “fulano que conhece beltrano e foi indicado ou sicrano que é parente do ‘bam bam bam’ do local”.
A concorrida área esportiva, na minha opinião, é uma das piores, pois a quantidade de profissionais vazios que está pintando e bordando por aí e ganhando muita notoriedade - e dinheiro - por pouco conteúdo é grande. Em muitos dos casos, esses “falsos profetas” nem são jornalistas ou criaram uma casca nesse mundo, apenas chegaram lá por algum motivo e se mantiveram, pois o interesse em coisas banais e até mesmo rasas está em alta.
Vou dar um exemplo. Um correspondente internacional que cobre o futebol francês tem a obrigação de saber ou pelo menos ter noção do que também acontece em clubes menos populares (Lens, Brest, Montpellier, etc) e não dar atenção somente ao todo poderoso Paris Saint-Germain só pelo fato de ter maior notoriedade. Ou seja, o suposto “especialista” de futebol francês, que deveria ter noção do geral, só sabe de um único clube.
Dito isso, as poucas vagas disponíveis na grande mídia obrigam os jornalistas a encontrar alternativas na profissão, mas muitos ainda desejam ter um espaço próprio para escrever ou falar sobre assuntos que os interessam, desde esporte e política até economia e culinária. Muitos profissionais querem transmitir seus conhecimentos para o público de alguma maneira, pois isso está no sangue, aceitando produzir conteúdo sem receber nada em troca pelo simples fato de querer colocar em evidência sua visão sobre determinado assunto.
No meu caso, eu escrevo para dois veículos de comunicação e sou muito feliz neles, vale destacar isso, mas não sou 100% livre. Em um deles, preciso respeitar hierarquias e assuntos priorizados, enquanto no outro sou podado pela quantidade de caracteres dos textos apesar da maior liberdade concedida a mim, não conseguindo passar no papel tudo o que gostaria.
A minha saída foi ingressar nas redes sociais, mas o Twitter (atual X), principalmente na era Elon Musk, podou o alcance dos conteúdos e dificultou a vida de muitos produtores com as limitações impostas quando não se tem o selinho azul, barreiras que podem ficar cada vez piores conforme o tempo e as loucuras do bilionário.
A ideia de me aventurar no Substack para falar sobre futebol internacional e badminton, minhas duas grandes paixões - ou até mesmo de jornalismo -, partiu de um colega jornalista que conheci recentemente. Quero encontrar um espaço para liberar tudo que tenho aqui dentro da cabeça sobre esses dois assuntos, me permitindo elaborar análises, notícias e entrevistas tranquilamente, sem a preocupação do limite de palavras ou se o assunto vai dar cliques ou não. É a minha liberdade de escrever sobre o que acho relevante e não o que segundos ou terceiros acham por questões econômicas.
O que vi na plataforma me animou muito, pois é um local onde vários jornalistas e produtores de conteúdos conseguem colocar para fora de maneira livre e responsável várias coisas que querem. Alguns transformaram seus perfis em um periódico recheado de opiniões sobre os mais variados assuntos, enquanto outros optaram em fazê-lo um diário de bordo. Muito interessante.
Esse é um primeiro texto que serviu para testar a plataforma - tenho muito com o que aprender aqui - e colocar os primeiros caracteres para fora. Só espero que eu tenha finalmente achado um lugar para chamar de “meu canto”, o do Renan jornalista.