Morte súbita de promessa chinesa liga sinal de alerta no badminton
Zhang Zhijie, de 17 anos, faleceu após sofrer um ataque cardíaco em quadra
Desde que assumi a responsabilidade de cobrir diariamente - ou quase - o badminton internacional e nacional, que foi há cerca de um ano, pela primeira vez me deparei com a infeliz notícia da morte de um atleta profissional da modalidade em função de um ataque cardíaco. Na minha opinião, demorou pouco tempo para isso ocorrer e só mostrou que não é um problema exclusivo do futebol.
O simplista chinês Zhang Zhijie, de somente 17 anos, sofreu um mal súbito durante a partida contra o japonês Kazuma Kawano, no torneio por equipes do Campeonato Asiático Júnior, em Yogyakarta, na Indonésia. O badiste caiu repentinamente no chão e ficou desacordado, mas os médicos se deram conta da gravidade da situação só depois de perceber o desespero do treinador, o que levou preciosos segundos. Após a espera para entrar em ação, os socorristas levaram o jovem urgentemente ao hospital mais próximo.
Apesar dos rumores de que suas condições haviam melhorado, a Badminton Asia e a Federação de Badminton da Indonésia (PBSI) divulgaram horas depois do ocorrido uma nota conjunta anunciando o falecimento da promessa chinesa, que disputou somente 11 pontos no confronto em que sofreu a parada cardiorrespiratória.
Essa tragédia poderia ter acontecido com qualquer pessoa, mas a cena fica ainda mais chocante por envolver um adolescente que tinha toda uma longa e promissora jornada pela frente no esporte. Além disso, o episódio liga um sinal de alerta para que as autoridades de saúde e federações repensem e melhorem as regras envolvendo a saúde dos atletas, principalmente para tentar prevenir novos casos.
Diversos usuários nas redes sociais lamentaram a morte de Zhang e cobraram por melhorias nas normas, enquanto outros relataram que não é a primeira vez que a equipe médica dos torneios de badminton deixa a desejar em um momento tão crítico. Alguns fãs ainda pediram uma redução do número de eventos obrigatórios da Federação Mundial de Badminton (BWF) em uma única temporada.
“Notícias absolutamente comoventes vindas do Campeonato Asiático Júnior de Badminton sobre a perda do jovem jogador de badminton Zhang Zhi Jie. Apresento minhas mais profundas condolências à família de Zhang durante este período devastador. O mundo perdeu um talento notável hoje”, escreveu P.V. Sindhu, uma das grandes estrelas do badminton da Índia.
Em quase 10 anos cobrindo futebol como jornalista esportivo, os episódios de ataques cardíacos em jogadores viraram algo recorrente, como se fosse uma doença incurável. Eu me recordo nitidamente do susto que o mal súbito sofrido pelo meio-campista dinamarquês Christian Eriksen durante a edição passada da Eurocopa causou no mundo do esporte bretão.
Na ocasião, quando o assunto estava fervendo ao redor do planeta, cheguei a entrevistar o cardiologista Marcelo Leitão, diretor da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício do Esporte (SBMEE), e o especialista afirmou que as “alterações cardíacas estruturais congênitas” são as causas mais comuns destes eventos em atletas com menos de 35 anos. Além disso, o médico avaliou que 30% dos esportistas que faleceram em virtude do problema não apresentavam “nenhuma mudança cardíaca detectável”, o que pode ser o caso de Zhang.
Ao contrário de Eriksen, que sobreviveu por muito pouco, o chinês, infelizmente, seguiu os mesmos passos de Serginho, Miklós Fehér, Piermario Morosini, Antonio Puerta, Marc-Vivien Foé e tantos outros que não resistiram. Em um relatório, a Fifa apontou que mais de 600 atletas da modalidade faleceram entre 2014 e 2018 em razão de uma parada cardíaca ou outra morte súbita.
O médico Joel Temple, diretor de eletrofisiologia cardíaca no Nemours Children's Health, seguiu a mesma linha de raciocínio ao indicar que uma parada cardiorrespiratória súbita em atletas jovens geralmente é causada por um defeito cardíaco congênito não diagnosticado e não por uma lesão no órgão. O especialista acrescentou que a maioria dos eventos não pode ser previsto, mas as triagens podem identificar aqueles em risco.
Em resumo, os problemas cardíacos ainda assombram muitas modalidades esportivas e acredito que isso vai perdurar por um longo período, mas não é motivo para se descuidar. Desejo de coração que as regras das associações melhorem e sejam ainda mais rígidas em relação ao assunto, sempre buscando melhorar o bem-estar dos badistes que precisam enfrentar inúmeras competições em uma temporada.
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