Críticas de An Se-young azedam relação com federação sul-coreana
"Eu queria fazer minha voz ser ouvida. Meu sonho era [ter] uma 'voz'", revelou a campeã olímpica

Atual campeã olímpica de simples feminina e uma das principais estrelas do badminton mundial, An Se-young quase nunca dá um nó fora do lugar em quadra, mas também mostrou que tem essa habilidade fora das arenas esportivas. A “princesa” silenciosa resolveu soltar tudo o que estava entalado na garganta exatamente no auge da maior conquista de sua carreira, além de ser um ouro que a Coreia do Sul não vencia havia 28 anos.
Em uma campanha impecável nos Jogos Olímpicos de Paris, na França, a badiste de 22 anos colocou os sul-coreanos novamente no topo da categoria individual feminina depois de quase três décadas. O processo para chegar até o lugar mais alto do pódio não foi simples, pois a atleta abdicou de campeonatos e disputou outros no sacrifício em razão de uma grave lesão no joelho direito sofrida em 2023, tanto que até hoje compete com essa parte do corpo toda remendada por faixas.
O rugido da nova campeã olímpica depois de cair de joelhos na quadra da Arena Porte de La Chapelle, na capital francesa, foi libertador, pois se livrou das amarras e julgou estar em plenas condições de expor uma situação desagradável. Com um imponente ouro dos Jogos de 2024 servindo de escudo, An revelou ao mundo a omissão da Associação de Badminton da Coreia do Sul (BKA) em relação ao tratamento de sua lesão.
Em uma breve entrevista aos jornalistas presentes em Paris, momentos depois de vencer a Olimpíada, a multicampeã declarou que foi negligenciada pela entidade enquanto estava machucada e teria até mesmo recebido um diagnóstico errado quanto à gravidade do problema no joelho.
“Fiquei muito decepcionada [com a associação] durante minha lesão. Realmente não consigo superar aqueles momentos”, confidenciou An, sem fornecer mais detalhes, deixando os repórteres com um ponto de interrogação na cabeça.
No entanto, uma entrevista da atual número 1 do mundo de simples feminina à agência de notícias sul-coreana Yonhap e alguns outros posicionamentos da própria An nas redes sociais deixaram claro a situação vivida pela jogadora, além de responderem os questionamentos causados pela declaração anterior.
“Minha lesão foi mais séria do que pensei inicialmente e levaria um tempo para sarar. No entanto, a federação levou isso na esportiva e não consigo esquecer o quão decepcionada fiquei com isso. A partir deste momento, acho até que será difícil para mim continuar na seleção”, disse a atleta, que esclareceu posteriormente que não estava prestes a se aposentar do circuito mundial.
“Depois dos Jogos Asiáticos, inicialmente me disseram que eu precisaria de duas a cinco semanas de reabilitação antes de retornar, mas como a dor não diminuiu, visitei uma clínica diferente. O novo diagnóstico revelou que a ruptura parcial do meu tendão patelar não melhoraria rapidamente e que eu precisaria controlar a dor e manter a lesão até as Olimpíadas. Quero continuar pelo bem do badminton na Coreia e pelas minhas próprias realizações, mas não sei o que a federação fará”, acrescentou.
Em meio aos altos e baixos na carreira, a atleta recordou que seu personal trainer na seleção sul-coreana trabalhou duro para ajudá-la a realizar seu sonho de disputar as Olimpíadas, apesar de ter competido recheada de dores.
Além de falar sobre a atitude desleixada da federação com o problema sofrido no joelho, a badiste ainda comentou que o atual regime de treinamento da BKA é ultrapassado, estagnado e não totalmente seguro para os atletas, defendendo que o sistema falha em “treinar de uma forma que previna lesões ou tome as medidas adequadas caso ocorra um machucado”.
Os comentários de An não pararam por aí, pois a asiática também acusou a associação de favorecer os duplistas da nação, responsáveis pelas principais conquistas recentes do badminton da Coreia do Sul, mas que nas Olimpíadas fizeram uma campanha pífia. Por fim, a BKA teria removido a badiste de torneios sem nenhuma explicação.
“Encontrei minha motivação na raiva enquanto estabelecia minhas metas e perseguia meus sonhos. Eu queria fazer minha voz ser ouvida. De certa forma, meu sonho era [ter] uma 'voz'“, sublinhou.
As acusações de An chegaram até no governo de Seul, já que o Ministério dos Esportes garantiu que planeja "apurar os fatos exatos assim que os Jogos terminarem" e "analisar a necessidade de medidas de melhoria apropriadas com base nas descobertas". A pasta, inclusive, garantiu que esticará essas averiguações para outras modalidades.
Lee Kee-heung, presidente do Comitê Olímpico e Esportivo da Coreia (KSOC), disse em Fontainebleau, na França, que ordenou que cinco treinadores de badminton enviassem relatórios sobre como a lesão de An foi tratada nos meses entre os Jogos Asiáticos e as Olimpíadas de Paris.
As duras críticas da jovem não ficaram apenas no badminton, pois subiram para as esferas governamentais e foram veiculadas na imprensa mundial, principalmente por serem realizadas minutos após um histórico ouro em Paris. Não podemos esquecer que a novela envolve um dos maiores nomes da modalidade nos dias de hoje e, ao que tudo indica, é uma história que terá diversos capítulos pela frente.
Com a vitória por 2 sets a 0 em cima da chinesa He Bingjiao, que emocionou o mundo com a homenagem feita a Carolina Marín no pódio, An ajudou seu país a vencer um ouro que faltava na prateleira sul-coreana desde que Bang Soo-hyun terminou em primeiro lugar em Atlanta em 1996.
Muito obrigado por ler a publicação. Se inscreva para receber novos textos e apoiar meu trabalho! Aproveite para deixar seu comentário aqui embaixo.
Se você gostou desta matéria, você também poderá curtir estes textos: