Brasil não disputará Mundial Júnior na China em patacoada da CBBd
Entidade tomou decisão após 4º lugar da seleção no Pan-Americano Júnior de Aguascalientes
Em 21 de julho, domingo, às 23h40 (de Brasília), a Confederação Brasileira de Badminton (CBBd) publicou um comunicado informando a desistência da participação da seleção no Campeonato Mundial Júnior, que ocorrerá em Jiangxi, na China. A drástica medida, no entanto, foi veiculada pouco mais de um mês depois de a própria entidade ter convocado os atletas que participariam do torneio.
Na breve nota publicada na calada da noite, torcendo para que passasse batida pelos entusiastas da modalidade, a confederação se limitou a dizer que a ação foi tomada “após avaliação de treinos e dos resultados esportivos” dos jovens badistes no Campeonato Pan-Americano Júnior, realizado em Aguascalientes, no México.
Na competição por equipes sub-19, o Brasil perdeu a disputa do bronze diante dos donos da casa e não subiu no pódio, enquanto no evento individual, que teve embates do sub-13 ao sub-19, o elenco verde-amarelo não conseguiu se classificar para nenhuma das semifinais. Embora os resultados realmente tenham ficado abaixo do esperado, a CBBd adotou repentinamente uma postura tirana e punitiva ao cancelar a participação no Mundial e jogar a culpa em cima dos jogadores.
A entidade máxima do badminton nacional julgou que as performances não foram otimistas no México, até aí tudo bem, mas isso não significa que ela pode simplesmente abandonar um Mundial só porque o desempenho no torneio continental anterior não satisfez suas vontades, ainda mais com os atletas já convocados. Para efeito de comparação, o Brasil foi pentacampeão em 2002 seis meses depois de fazer uma quase desastrosa eliminatória. Agora, imaginem só se a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) tivesse resolvido desistir da Copa do Mundo.
Em quase uma década cobrindo os mais variados esportes, eu não me lembro de algum dia já ter visto uma entidade tomar uma decisão tão arrogante e prepotente como essa, tanto que a nota não foi publicada nas redes sociais da CBBd para permanecer escondida no site e evitar críticas. De todas as formas, os (as) principais badistes prejudicados (as) nessa bagunça acabaram sendo Klerton Zaidan, Joaquim Mendonça, Kauã Laurentino, Maria Clara Lima, Maria Fernanda Santos e Maria Eduarda Oliveira. Esse seria o grupo que defenderia o Brasil na China.
Em suas redes sociais, Zaidan expressou toda sua indignação com a decisão da confederação e recebeu apoio de diversas pessoas ligadas à modalidade, entre elas João Mendonça, Diego Rodrigues e Francielton Farias.
“Receber a notícia de uma convocação para uma competição é um momento de grande alegria e realização pessoal. É o reconhecimento de todo o esforço, dedicação e sacrifício investidos ao longo do tempo. No entanto, a súbita notícia do cancelamento da participação no torneio pode ser devastadora, causando um profundo sentimento de frustração e indignação. Me tirando essa oportunidade, surge um sentimento de impotência e desrespeito, tanto para o meu esforço, dedicação, dias e horas de treinos, abdicação de tantas coisas que tive que fazer para conseguir o meu objetivo, quanto para os meus pais, meus treinadores, clube, recursos gastos e todos aqueles que estão por trás da minha preparação”, escreveu.
A CBBd, que ainda não voltou atrás da decisão e muito menos se manifestou sobre o episódio (duvido que vá), retrocedeu inúmeros passos e precisará aprender a ter mais consciência, pois jamais uma confederação pode tratar seus atletas desta maneira. Além disso, a ação da entidade desrespeita até mesmo a boa evolução dos oponentes continentais, principalmente México e Peru, que alcançaram importantes vitórias sobre os brasileiros no Pan Júnior e elevaram o nível competitivo das Américas.
Como consequência, as promessas do badminton nacional foram impedidas de crescerem e se desenvolverem em uma competição que traria uma bagagem esplêndida. Além disso, o amadorismo da CBBd barrou sonhos de atletas, que viram uma ótima oportunidade ser roubada de suas mãos, e instala um sentimento de medo e pressão nos mais jovens, que podem se preocupar em sofrer represálias por desempenhos abaixo do esperado. O risco de vermos a alegria de defender seu país em um torneio internacional se transformar em temor é alto.
A decisão de Zaidan e do Joca Claudino Clube de Esportes (PI) de criticarem abertamente a conduta da confederação foi muito positiva, bem como o amplo apoio da comunidade e a divulgação de notícias, pois tudo isso mostra que absurdos não vão ser tolerados ou esquecidos.
Vale destacar que até mesmo o timing desse comunicado ter sido divulgado foi horroroso e não muito bem pensado, pois a abertura das Olimpíadas de Paris, na França, está logo aí e os esportes olímpicos estão em alta na mídia. No caso do esporte de raquete mais rápido do mundo, a modalidade vem sendo amplamente divulgada nas últimas semanas, principalmente com as profetizadas de Ygor Coelho, e um tema polêmico como a saída de um Mundial é tudo que a grande imprensa deseja obter de mão beijada.
Por fim, já que a presepada está feita, só espero que a CBBd não siga os mesmos passos da extremamente criticada Federação Mundial de Badminton (BWF) e tenha a sabedoria de admitir que passou do ponto. Além disso, torço para que os recursos que seriam destinados para o Mundial da China possam auxiliar de forma concreta o cenário nacional da modalidade.
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