Badminton nas instituições de ensino: uma receita muito boa
Com profissionais capacitados, esporte evoluirá se for apresentado adequadamente em cada vez mais escolas
O termo “e se…” é bem pequeno, mas sua energia é gigantesca, pois o usamos muitas vezes para lamentar alguma decisão equivocada em um momento que poderíamos ter seguido um outro caminho - e talvez - melhor, por exemplo, “e se eu não tivesse saído de casa” ou “e se eu tivesse freado em vez de acelerar”. Enfim, há uma infinidade de variações, mas o ponto onde quero chegar é que ele também vale para o badminton.
Calma lá, eu sei que é meio óbvio, pois a modalidade é muito dinâmica e envolve centenas de tomadas de decisões em um curtíssimo espaço tempo, então é natural se decepcionar com algumas delas. Porém, eu quero sair da ponta do iceberg e chegar até sua base para lançar a pergunta: e se as escolas e universidades valorizassem mais o badminton, será que não teríamos uma evolução exponencial?
Não precisa jogar há 10 ou 30 anos para notar em clubes, escolinhas e torneios amadores ou estaduais a quantidade de atletas que possuem um nível muito interessante. O problema é que uma boa parte descobriu o esporte tardiamente através de uma coincidência ou por pura curiosidade, enquanto alguns dos que começaram desde criança largaram a modalidade pelo fato de não ver muito futuro ou não ter recebido os estímulos necessários.
Outro ponto curioso é um perceptível desinteresse dos próprios estudantes de educação física. Desde que comecei a praticar a modalidade, seis conhecidos (as) que fazem ou fizeram o curso já me pediram para ajudá-los em provas nas matérias que envolvem esportes de raquetes, principalmente badminton, pois eles tinham um conhecimento mínimo sobre o assunto. Eu não tenho nada a ver com essa área, mas vejo isso como um absurdo com “A” maiúsculo.
Levando isso em consideração, a ideia de levar o badminton para cada vez mais escolas é sensacional, pois é lá onde os jovens pegam na massa para descobrir suas paixões, mas ao mesmo tempo é super necessário que surjam profissionais capacitados e interessados no esporte de raquete mais rápido do mundo. Não adianta absolutamente nada se o mestre não souber instruir seus alunos.
Eu, por exemplo, nunca ouvi falar de badminton durante meu tempo na escola e na universidade. Eu sabia da existência da modalidade, mas até 2022 jamais tive acesso a uma raquete ou peteca. O “esporte” mais diferentão que era praticado no meu colégio era o empilhamento de copos, mas foi uma coisa colocada em prática sem planejamento, tanto que durou alguns meses e teve poucos adeptos. Já na faculdade, nos quatro anos em que permaneci nela, só sabia que o quadro esportivo tinha futsal, futebol de campo e futebol americano, sem mencionar que todos tinham uma panelinha infernal.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs, 1997), diretrizes do Governo Federal que orientam a educação no Brasil, não chegam a mencionar o badminton em seu documento. De acordo com algumas pesquisas elaboradas nos últimos anos, as modalidades mais praticadas nas escolas são futsal, vôlei, basquete e handebol. A situação é tão maluca e beirando ao ridículo que o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) excluiu o futebol de salão, esporte mais difundido nas instituições de ensino do país, dos tradicionais Jogos da Juventude.
Embora muitos fatores negativos atrapalhem um desenvolvimento mais consistente, é possível elencar um ponto positivo que joga a favor do badminton: o esporte, apesar de envolver uma raquete, é muito mais seguro em comparação com os outros mais populares. Além disso, a modalidade é divertida, envolvente e pode ser jogada por todos, sem necessidade de fazer muitas distinções. Quando eu era criança ou adolescente, certamente ficaria muito animado de ter em mãos uma raquete e uma peteca, pois é algo que sai do habitual e vai além de simplesmente chutar uma bola.
A boa notícia é que o badminton brasileiro vem crescendo cada vez mais e muitas coisas positivas chegaram ou estão por vir, mas sempre fica a pulga atrás da orelha de que poderia atingir um nível maior e receber mais apoio ou divulgação. Felizmente, é perceptível que cursos são ministrados, há intercâmbios e o nome do esporte está aparecendo em cada vez mais cantos e recantos. Particularmente, curto um dos lemas da Federação de Badminton do Estado de São Paulo (Febasp): “Rumo a 645 municípios do estado de São Paulo”.
O badminton não está sozinho na luta por reconhecimento, pois é só olhar pela janela para ver a situação precária de muitos atletas que praticam vôlei, rugby, ginástica e futsal, por exemplo, com cada vez mais brasileiros treinando fora do país e até mesmo optando em defender a nação que o acolhe. Ygor Coelho, grande nome do badminton do Brasil na atualidade, trabalha na Dinamarca, uma das potências do esporte na Europa.
Mencionando o professor Fabio Gomes Rocha, do Badminton Zona Norte (Badminton ZN), os projetos sociais estão entre os principais formadores do país de atletas de alto nível, mas eles não podem entrar em campo sozinhos, tornando-se extremamente necessário um maior investimento na formação de profissionais para abrir o leque da área de atuação da modalidade.
Eu fico feliz e mais tranquilo ao ver clubes e escolinhas com professores/treinadores (as), mesmo que jovens, suando a camisa para trabalhar a base e conseguir novos frutos. Na Copa Pinheiros de 2023, por exemplo, tive a fantástica experiência de jogar e presenciar ao vivo e a cores a assustadora qualidade de vários atletas, o que mostra o trabalho bem feito pelos profissionais.
Confesso que em quadra me considero um jogador mediano, que não deixa uma partida sem uma grande luta, mas a minha grande função no badminton é usar a comunicação, principalmente as palavras. É um trabalho de formiguinha, assim como os esforços para evoluir a modalidade, tudo vai acontecendo de pouco em pouco, mas o importante é ver essa máquina funcionando a todo vapor.
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