Badminton Itapeti: uma família unida em busca de voos mais altos
Equipe de Mogi das Cruzes sonha em ser referência estadual, nacional e internacional
“Nossa filosofia de trabalho é simples: ‘Sozinhos vamos mais rápido, juntos, vamos mais longe’. Através dela, tudo se aplica”
Filipe Toledo
“O badminton me ensinou lições valiosas sobre trabalho em equipe, resiliência, determinação, perseverança e superação de desafios. Fazer parte dessa família me motiva a continuar trabalhando, sempre em busca do melhor para o nosso time, pois acredito no potencial de cada membro e no poder transformador do esporte na vida das pessoas”
Agnes Noda
Ao contrário do Centro Paulista de Badminton (CPB) e do Badminton ZN, que foram as duas primeiras equipes abordadas por mim aqui no Substack, o Badminton Itapeti fica no interior de São Paulo, mais precisamente em Mogi das Cruzes, mas apesar da distância da capital, é um clube que marca forte presença, sonha alto e chama atenção pela organização e qualidade.
Em pouco mais de dois anos no universo do badminton, o Itapeti foi uma das equipes que mais me chamaram atenção. Além de me deixar surpreso pela grande quantidade de atletas de todas as idades envolvidos em competições, desde amistoso até nacional, a delegação possui uma energia vencedora e causa arrepios em seus adversários. Não é necessário ir muito longe para ouvir nos bastidores as pessoas rasgando elogios aos atletas da equipe.
Uma das grandes certezas que tenho sobre a modalidade é que, quando você vê em quadra alguém jogando com um belo uniforme preto e rosa, pode parar o que está fazendo e assistir, pois será uma ótima partida. Um fato engraçado e até curioso é que já reparei em vários atletas de outros clubes que se sentiram incomodados de enfrentar o Itapeti em função da alta dificuldade.
Tudo isso que mencionei nos parágrafos acima não é construído do dia para noite. Com ambição de chegar cada vez mais longe nos cenários estadual, nacional e até mesmo internacional, o Itapeti atingiu seu patamar atual com muita determinação, disciplina, foco e, principalmente, trabalho árduo, como deixou bem evidente o treinador da equipe, Filipe Toledo, em uma entrevista.
“Nossa filosofia de trabalho é simples: ‘Sozinhos vamos mais rápido, juntos, vamos mais longe’. Através dela, tudo se aplica. Temos um time muito unido e focado em não somente se desenvolver a si, mas também ao próximo. Os atletas têm uma disciplina e senso de responsabilidade acima da média, mas também uma vontade incrível de melhorar. Todos querem ser suas melhores versões, mas todos também se preocupam com o resto do time e buscam ajudar nas dificuldades e, nesse sistema de um ajudar o outro, evoluímos como atletas e time”, explicou o comandante.
Não é nenhuma novidade que o badminton é um esporte pouco conhecido no Brasil, apesar de ter apresentado uma evolução nos últimos tempos. Então, os bons trabalhos realizados nas mais diversas equipes da modalidade geralmente - e infelizmente - ficam escondidos do público. No caso do Itapeti, Toledo deixou claro que, ao menos a curto prazo, o time deseja “expandir e consolidar” o esporte em Mogi das Cruzes, mas a ideia não é parar por aí.
“Os objetivos a longo prazo são tornar o Itapeti em uma referência estadual, nacional e internacional. Começamos com o objetivo simples de tentar alcançar o top 3 do estado, para depois irmos ao top 3 nacional e, posteriormente, trabalhar para que nossos atletas tenham uma vida ativa fora do país através de torneios internacionais e períodos de treinamentos em locais que temos parcerias. Da mesma forma, trazer atletas de fora para treinar conosco revertendo a cadeia de necessidades”, disse Toledo.
Os ambiciosos sonhos do Itapeti estão fixos nas cabeças de atletas, comissão técnica e diretoria, mas o trajeto até eles não é apenas uma via super bem pavimentada, pois está incluído no pacote alguns trechos recheados de pedras e buracos. Um dos imprevistos que a equipe precisa encarar de frente é a distância da capital paulista.
De acordo com uma rápida estimativa feita por Toledo na entrevista, os moradores de Mogi das Cruzes levam por volta de meia hora de carro para chegar no local de treinamento, enquanto os que vem de São Paulo demoram cerca de uma hora. Sim, o amor pelo badminton é capaz de mover até o Monte Everest, mas não enche barriga. Levando isso em consideração, o Itapeti precisou bolar uma estrutura de cair os queixos para que essa distância não minasse o caminho da equipe.
“Sabemos que o Itapeti fica afastado da capital, por isso mesmo, temos um lema de fazer valer a pena cada visita que recebemos. Hoje oferecemos um local com seis quadras, academia, equipamentos de ponta para treinamento e até alojamento caso precisem”, destacou o técnico, acrescentando que o complicado deslocamento dos atletas até o treino é um dos grandes vilões do projeto.
A distância, contudo, não traz apenas coisas negativas, tanto que Toledo colocou sobre a mesa algumas vantagens de ficar um pouco mais afastado da capital paulista, já recheada de equipes de badminton.
“Temos um custo menor em diversos sentidos. Reformas, necessidades, equipamentos em geral e a manutenção do programa acaba sendo mais barato e acessível para a continuidade do projeto. Além disso, temos menos esportes concorrentes e com isso, temos acessibilidade quase total do ginásio para nosso projeto e temos a liberdade de poder utilizá-lo praticamente em qualquer horário para trabalhar nossos atletas de alto rendimento”, comentou.
Há mais de duas décadas no esporte de raquete mais rápido do mundo e ex-jogador profissional, Toledo afirmou que se entrega de “corpo e alma” para ver o Brasil sempre evoluir na modalidade. O amor pelo badminton e pelas pessoas envolvidas no projeto do Itapeti o ajuda a superar a distância para prosseguir com o ótimo trabalho em Mogi das Cruzes, iniciado em virtude da necessidade de uma treinadora japonesa precisar voltar ao seu país natal durante a pandemia de Covid-19.
“A pandemia interrompeu o projeto e essa pessoa teve que voltar ao Japão, o que deixou o Itapeti sem uma referência. Então, ao ver a situação, me comovi. Eles tinham um time de crianças de potencial, jogando e disputando torneios. Era bonito de vê-lo se desenvolvendo e fiquei muito chateado de ver sendo interrompido por algo que não era culpa de ninguém. Mesmo vivendo em SP e sendo longe, perguntei se eles teriam interesse em me receber para uma experiência. A boa verdade é que, desde o primeiro dia que pisei em Itapeti, fui recebido com extrema cordialidade e simpatia, e em poucas semanas me senti parte dessa família”, concluiu Toledo.
Uma outra integrante da família Itapeti
Confesso que, nas origens da matéria, eu não havia entrevistado a diretora do Itapeti, Agnes Noda, que também é coordenadora da modalidade na secretaria municipal de Esportes e Lazer de Mogi das Cruzes, mas a minha intuição de jornalista gritou comigo: “Cara, você precisa incluir ela no texto”. Aliás…desde já o meu mais especial muito obrigado por todo o auxílio prestado para que essa matéria virasse realidade.
Pois bem, eu a ouvi e falei com a gestora alguns dias depois das respostas de Toledo. Noda afirmou que, ao mesmo tempo que o badminton é a sua “maior fonte de estresse, ele é também um calmante”. Além disso, ela mencionou uma coisa interessante em relação à troca de aprendizados que atletas amadores possuem com os de alto nível.
“É a união de diferentes propósitos, de um lado a excelência esportiva, com os treinamentos de alto rendimento para atletas que buscam atingir o melhor desempenho em quadra, e do outro, um lado mais social e recreativo, como uma opção de atividade física e de lazer em família. Esses dois mundos, convivendo em harmonia num mesmo espaço, cada um sendo impactado positivamente por essa proximidade. É muito bom ver as conquistas desse esporte sendo compartilhadas pelo grupo”, comentou Noda, acrescentando que há uma idosa de 71 anos treinando no mesmo horário que atletas de nível de seleção brasileira.
A diretora ainda falou sobre a satisfação de ser uma das pessoas responsáveis pela equipe de Mogi das Cruzes, já que apesar dos desafios por vezes estressantes que passa à frente do time, a modalidade é capaz de “esquecer as preocupações” nos momentos em que está envolvida na prática de badminton.
“A gestão e a prática como atleta amadora me proporcionaram momentos únicos de vitórias e derrotas, alegria e tristeza. Trouxe-me um sentimento de realização pessoal extremamente satisfatório. Durante esses anos, o badminton me ensinou lições valiosas sobre trabalho em equipe, resiliência, determinação, perseverança e superação de desafios. Fazer parte dessa família me motiva a continuar trabalhando, sempre em busca do melhor para o nosso time, pois acredito no potencial de cada membro e no poder transformador do esporte na vida das pessoas”, afirmou.
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