Após 'hype' na Olimpíada, badminton brasileiro não pode deixar peteca cair
Modalidade no país ganhou bastante visibilidade e fez história em Paris

Embora não tenham passado da fase de grupos dos Jogos Olímpicos de Paris, na França, os atletas Ygor Coelho e Juliana Viana foram protagonistas de uma participação histórica do Brasil no badminton e extremamente frutífera para o esporte de raquete mais rápido mundo, principalmente no quesito visibilidade.
Dentro de quadra, o carioca, que participou das Olimpíadas pela terceira vez na carreira, não venceu nenhum confronto, mas mostrou personalidade em colocar o japonês Kodai Naraoka (5º) e o sul-coreano Jeon Hyeok-jin (45º) em dificuldades. O mais curioso é que o badiste perdeu o segundo game de ambos os confrontos por 21 a 19, quase forçando um terceiro, o que seria um feito incrível.
Juliana, de apenas 19 anos, desembarcou na capital francesa com uma voadora de dois pés na porta. Pouco tempo depois de fazer a tailandesa Supanida Katethong suar a camisa em sua estreia no megaevento esportivo, a piauiense superou a honconguesa Lo Sin Yan Happy e cravou seu nome na história ao se tornar a primeira brasileira a ganhar um duelo de badminton nas Olimpíadas.
Os feitos dentro de quadra de Ygor e Juliana foram notórios, basta uma rápida pesquisa no Google através da palavra “badminton” para se deparar com uma ampla cobertura da imprensa. No entanto, o que a dupla fez ou deixou de fazer na Arena Porte de La Chapelle, em Paris, é só a ponta do iceberg. Eu desejo ir mais além nesta newsletter e esticar o assunto até a parte que está oculta pela água.
A alegria de ver os dois badistes representando tão bem a seleção entrou em conflito com a campanha abaixo do esperado no Pan-Americano Júnior, no México, que acarretou na desistência do Brasil no Mundial Júnior da China, decisão tomada pouco mais de uma semana antes da partida entre Juliana e Katethong. As Olimpíadas abafaram a polêmica, mas expuseram duas faces diferentes do badminton nacional.
O momento desencadeado pelos Jogos de Paris é positivo, pois a modalidade está diariamente na grande mídia, teve partida sendo transmitida em rede nacional e o número de seguidores nas redes sociais de Ygor e Juliana explodiu, tanto que o crescimento registrado especificamente pela piauiense foi de quase 1000% (não escrevi errado, é isso mesmo).
Pudemos contemplar muito conteúdo interessante sendo compartilhado, desde a profetizada de Ygor e a sua história de superação até Juliana sendo comparada com a Rayssa Leal e levando ao público a sua formidável trajetória. Para se ter uma ideia, a Folha de S.Paulo, o segundo maior jornal do Brasil em circulação, dedicou uma página inteira ao badminton, especificamente sobre os locais onde se é possível praticar a modalidade na capital paulista. O Ministério do Esporte também publicou uma nota celebrando o triunfo inédito de Viana.
Apesar de o badminton ter sofrido nas mídias sociais um desnecessário “hate” de usuários completamente ignorantes e desinformados, os jogos dos dois representantes brasileiros foram amplamente assistidos, comentados e comemorados por entusiastas e pessoas que haviam acabado de conhecer o esporte.
Com toda essa vitrine que somente as Olimpíadas podem proporcionar, a expectativa que fica é sobre como a Confederação Brasileira de Badminton (CBBd), federações, clubes, treinadores e atletas vão lidar no período pós-Jogos, quando tudo voltar ao normal. O megaevento deixou nítido que a modalidade ganhou força dentro e fora das quadras, além de emitir claramente um sinal verde para a possibilidade de um salto de qualidade, mas apenas se receber a atenção necessária.
Juliana e Ygor, assim como vários outros badistes que já defenderam o Brasil, iniciaram suas trajetórias quando crianças em projetos sociais, mostrando a importância destes trabalhos e a importância de uma maior valorização deles. A prática do badminton em cada vez mais escolas também pode contribuir para a popularização, evitando que os jovens descubram o esporte tardiamente ou apenas por coincidência.
Não é muito difícil encontrar entusiastas que descobrem a paixão pelo badminton através de partidas disputadas nas Olimpíadas. Com a exposição positiva de Ygor e Juliana nas redes sociais e na mídia, aliado ao grande carisma de ambos os atletas, é provável que a quantidade de jogadores e a procura pelo esporte registre um aumento, sendo uma hora primordial para aquele empurrãozinho em receber maior apoio e até mesmo abrir novos locais de prática em todo o Brasil.
Entre os promissores badistes, protagonistas das futuras gerações do badminton brasileiro, que possam ter condições de participarem de intercâmbios com outros países, principalmente os asiáticos, para que tenham referências e maior conhecimento sobre o que acontece no centro da modalidade. Embora seja nome de peso na América do Sul, o Brasil ainda precisa aprender muito com os colegas canadenses, americanos, chineses, sul-coreanos, indianos, japoneses e por aí vai.
Isso sem mencionar as federações e equipes afastadas das grandes capitais, como São Paulo e Rio de Janeiro, que ainda sofrem com a falta de aparelhos e equipamentos. Citando um rápido exemplo para ilustrar o argumento, basta observar a Federação Acreana de Badminton (FEACBd), que possui raquetes inutilizadas em razão da falta de uma máquina de encordoamento.
O badminton brasileiro deu alguns passos para trás com sua renúncia ao Mundial juvenil, mas pode voltar a andar na direção certa do tabuleiro ao não deixar que a modalidade caia no esquecimento, seja guardada dentro de uma gaveta e só reapareça com força em 2028, nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, nos Estados Unidos.
A Olimpíada, que põe em evidência dezenas de atletas e esportes, abre brechas para que se torne um dos momentos mais propícios para profundas reflexões sobre as ações tomadas nos últimos tempos. É um dos raros períodos que o futebol fica em segundo plano e escancara as portas para inúmeros atletas que lutam diariamente pelo mínimo de reconhecimento, apoio, investimento e incentivo. O megaevento é aquela história do cavalo branco que passa na nossa frente.
Com as evoluções cada vez mais constantes de Estados Unidos e Canadá, que já dominam o continente americano, o Brasil observa apreensivo através do retrovisor as aproximações de México, Peru e Chile. Não vemos isso somente no badminton, mas o país já registra dificuldades contra os vizinhos em algumas outras modalidades.
No geral, o Brasil precisa se esforçar ao máximo para que todo esse retorno maravilhoso da Olimpíada seja explorado de forma benéfica, pois a modalidade não pode deixar a peteca cair tantas vezes.
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