A "diplomacia" do badminton é encantadora
Jogar o esporte de raquete mais rápido do mundo é como sair da bolha
Em mais um texto comparativo sobre badminton que produzo aqui no Substack, gostaria de compartilhar desta vez com vocês uma analogia realizada por mim logo nas primeiras semanas da minha aventura pelo esporte de raquete mais veloz do planeta.
Para contextualizar, eu vim do futsal e do society, principalmente futebol de salão, tanto que dos 9 aos 17 anos disputei vários campeonatos estaduais da Federação Paulista de Futsal (FPFS), municipais e colegiais. Foram tempos bons, sem dúvidas, mas o problema era - e ainda é - a brutalidade. Digo isso em todos os sentidos, desde a briga por posições em seu próprio elenco até a convivência com adversários.
A quadra de futsal ou um estádio de futebol não é muito diferente do que era o Coliseu para os romanos, pois o grande desejo do público e dos participantes é vencer e, mais ainda, humilhar seus rivais. Uma dividida ou uma disputa de bola mais firme é motivo de uma celebração ensurdecedora e a torcida tem um papel fundamental para alimentar aquele denso clima. No geral, basta uma faísca cair onde não deve para um vasto incêndio se alastrar, sem contar que presenciei muitas pessoas incentivando a não ter piedade. Enfim, parecia uma Guerra Mundial.
Não é à toa que várias federações ao redor do mundo enfrentam cada vez mais dificuldades em conter as violências ocorridas dentro e fora dos gramados, que vai de torcidas organizadas até jogadores, basta recordar quantas pessoas morreram em partidas. Em quase 10 anos nos ambientes competitivos do futsal e do society, presenciei muitas coisas tristes e revoltantes de pais, atletas, gestores e torcedores.
O badminton, por sua vez, tem seu clima de competitividade bastante acirrado, mas é uma modalidade bem mais “diplomática” em comparação com os esportes já mencionados acima. Existe aquele cinismo de cravar a peteca no chão, de querer vencer ou de explorar o corpo do adversário, mas em questão de segundos já estamos pedindo desculpas por uma inocente petecada. No futsal, por exemplo, uma bolada bem dada no adversário é um fator que pode aumentar a moral da equipe, sem contar que o ato costuma ser celebrado quase como um gol.
A modalidade das petecas e das raquetes, apesar de ter chances de os ânimos ficarem exaltados durante uma competição, é bem mais tranquila, cordial e amistosa. O respeito pelo adversário ou adversários que estão do outro do lado da quadra é quase sempre mútuo e acaba surgindo até amizades, como aconteceu comigo em várias ocasiões. Aproveito esse clima amigável para deixar um desabafo: eu juro para vocês que não entra na minha cabeça como é que as escolas não adotam o badminton como um esporte a ser praticado depois das aulas e na educação física.
A diplomacia pode ser entendida como uma ferramenta para que as nações lidem com suas divergências através do diálogo, sem o uso de ofensas ou violência. De forma mais prática, é tratar com um bando de gente de modo pacífico e tendo respeito pelo próximo. O badminton é um pouco disso, pois apesar das diferenças entre as pessoas, o que é natural e muito bom, tudo é resolvido através da conversa ou de um pedido de desculpas.
O badminton ainda é tido por mim como um dos esportes mais democráticos que já conheci, pois literalmente todos podem disputar e desfrutar o momento. Eu, por exemplo, já joguei com mulher, criança, adolescente, idoso e estrangeiro, sem esquecer de pessoas com deficiência. Ou seja, o ato de jogar badminton te faz sair completamente da bolha e abre seus olhos, pois costumamos usufruir apenas as mesmas coisas e ignoramos as portas que se abrem do nosso lado.
Eu confesso que me surpreendi demais da conta com o badminton, pois ele tem o ambiente leve e gostoso que sempre procurei no trabalho e no esporte. O futsal, onde passei toda minha adolescência treinando firme e me aprimorando, foi uma espécie de escola e trouxe benefícios, sim, mas também veio coisas negativas de brinde, como uma elevada competitividade, medo de errar e falta de confiança. Tudo isso, no entanto, venho corrigindo através de tratamento psicológico e, principalmente, o badminton, que limpou um lado meu que estava obscuro.
Como forma de agradecimento pelo bem que me traz, eu tento divulgar esse esporte através da minha profissão, o jornalismo. Essa espécie de escambo entre nós vem sendo muito interessante, pois aprendo algo novo diariamente, tanto na prática quanto na teoria.
De todas as formas, vejo que o badminton é uma espécie de luz que ilumina seus praticantes. Cada um leva a modalidade da sua própria maneira, mas tenho a impressão que muitos carregam o esporte como um tipo de desafio pessoal para se testar, melhorar e afastar as negatividades acumuladas, por exemplo, no trabalho, enquanto outros o encara simplesmente como um ponto de paz, ou seja, uma ocasião para se exercitar sossegado.
Dito tudo isso, eu sei que há exceções, pois assim como tem gente ruim no futebol, também possui no badminton e isso está fora de nosso controle. Só quero que entendam que passei apenas um ponto de vista pessoal do que convivi em quase dois anos nesta modalidade e mais de 10 no esporte bretão. Aproveitando a deixa, um muito obrigado por chegar até aqui.
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