A altura importa no badminton?
Talvez essa seja uma das perguntas mais antigas da modalidade
Uma das perguntas mais recorrentes que já recebi, principalmente de pessoas novatas no badminton, é se a altura faz alguma diferença dentro de quadra. Eu sempre respondi com base na minha experiência, mas não considerei correto escrever essa newsletter apenas tendo os meus achismos como embasamento, até mesmo pelo fato de nunca ter jogado em alto nível.
Passei os últimos dias procurando estudos e matérias veiculadas sobre o tema e acredito que o texto poderá esclarecer um pouco essa questão. Antes de tudo, volto a defender efusivamente que o badminton é um dos esportes mais democráticos existentes, então a altura não é um impeditivo para a prática da modalidade, muito pelo contrário.
É quase impossível não recordar de Akane Yamaguchi quando o assunto é badistes baixinhos. Com seus 1,56m de altura, a japonesa de 27 anos já foi número 1 do mundo de simples feminina e tem dois Campeonatos Mundiais no currículo, ou seja, comprova que ser pequena não é sinônimo de insucessos no esporte de raquete mais rápido do mundo.
Yamaguchi não está completamente sozinha nesse balaio, pois sua compatriota Nozomi Okuhara, medalhista de bronze nos Jogos do Rio de Janeiro, tem a mesma altura e também já ocupou o topo do ranking mundial, em 2019. O duplista Yuta Watanabe, por sua vez, tem 1,67m e faturou um bronze olímpico recentemente em Paris, na França, nas duplas mistas.
Caso traçarmos um paralelo com Pusarla Venkata Sindhu, a P.V. Sindhu, que possui cerca de 23 centímetros a mais que Yamaguchi, a indiana leva uma ligeira vantagem em confrontos diretos. Em 25 duelos entre as duas atletas, a japonesa foi superada 14 vezes e conquistou 11 triunfos.
“Akane pode ter que dar um passo a mais [para pegar a Peteca], mas ela é ótima na defesa e pode saltar rapidamente. Ela é bem mais flexível que jogadores mais altos”, analisou Charmaine Reid, ex-badiste profissional canadense que atualmente é comentarista esportiva, em entrevista à agência Reuters.
Normalmente, um atleta mais baixo tem maior facilidade em mudar de direção e permanecer ágil dentro de quadra, mas encontra mais dificuldade em retornar um smash bem angulado. No caso contrário, badistes altos possuem facilidade em emendar um smash de forehand em um ângulo mais fechado, contudo, a movimentação é geralmente mais lenta.
Os profissionais mais baixos podem ter uma ligeira vantagem no net game, já que a raquete fica naturalmente na altura correta para interceptações rápidas e precisas. A velocidade de recuperação também é notória em jogadores não tão altos, basta lembrar da agilidade de Lee Chong Wei, Kento Momota e Anthony Ginting.
No meu caso, que tenho 1,68m, realmente sofro um pouquinho mais para chegar em algumas petecas, principalmente se eu estiver atrasado ou mal posicionado, mas esse esforço é compensado pela explosão, velocidade e movimentação. Além disso, sinto maior facilidade em trocar drives, já que não preciso me agachar muito para ter uma angulação favorável.
Se Yamaguchi é uma referência para os baixinhos, o dinamarquês Viktor Axelsen, bicampeão olímpico de simples masculina, é a maior estrela dos altos. Com cerca de 1,94m, o escandinavo dificilmente é superado em altura por oponentes no circuito mundial, tanto que seus desempenhos acima do nível estabeleceram uma nova forma de se ver o badminton.
Além de sua grandeza intimidar qualquer oponente, o europeu edifica uma muralha quase intransponível na outra quadra, então é extremamente difícil marcar pontos contra Axelsen. O atleta parece que é capaz de chegar em todas as petecas em pouquíssimos passos, o que pode acarretar em uma maior conservação de energia. Então, é normal ver os oponentes tentando fazer o escandinavo girar e mudar bastante de posição, embora não seja uma tarefa simples.
Você já se imaginou sacando em Axelsen? O ex-número 1 do mundo é tão alto que parece que vai te engolir em um contragolpe se o lance não sair com precisão. A impressão que passa é que qualquer deslize cometido durante o duelo poderá ser fatal.
“Ele é alto e acerta golpes com angulações muito boas do fundo da quadra, então é difícil se defender deles. Contudo, quando o Viktor joga contra alguém mais baixo, com um pouco de agilidade, é mais difícil para ele responder rapidamente pelo fato de ser alto”, avaliou Ian Wright, diretor de desenvolvimento da Federação Mundial de Badminton (BWF), que supervisiona a divisão de ciência e pesquisa do esporte.
Entre os 10 melhores simplistas masculinos da atualidade, de acordo com o ranking da BWF, apenas quatro não possuem menos de 1,80m: Kunlavut Vitidsarn (1,77), Jonatan Christie (1,79), Kodai Naraoka (1,73) e Anthony Ginting (1,71). Já pelo lado feminino, quatro têm pelo menos 1,70m: An Se-young (1,70), Chen Yufei (1,71), Carolina Marín (1,72) e Wang Zhiyi (1,71).
Em resumo, a altura pode fazer uma pequena diferença ali e aqui, mas não é algo que vai comprometer totalmente o desempenho de um badiste. Na prática, não há desvantagens que não possam ser superadas com bastante treino e adaptação, então a ideia principal é aproveitar o jogo e dar o seu melhor.
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